segunda-feira, 14 de abril de 2014

Laís Elena é a dona da bola (Diário do Grande ABC)

Anderson Fattori e Nilton Valentim

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Nos últimos 50 anos muita coisa mudou no basquete: as regras, o material da bola, o sistema de pontuação, de marcação de tempo (deixou de ser duas etapas de 20 minutos, para quatro de dez). Em Santo André, tudo isso foi incorporado, mas uma coisa permanece inalterada por meio século: a presença de Laís Elena Aranha, 71 anos, no grupo.

A história da modalidade na cidade se confunde com a sua trajetória de vida. Ela chegou em 1964 para defender as cores da extinta Pirelli e, desde então, dedica-se integralmente ao esporte. Laís parece ter descoberto a estratégia certa para driblar o tempo. Permanece inabalável como dona da bola e neste período acumulou títulos, formou atletas, conquistou respeito e contribuiu (e muito) para o desenvolvimento da modalidade.

“Lembro-me muito bem do Paulo Albano (ex-treinador da Pirelli) ir me buscar em Piracicaba com a peruinha amarela da Pirelli”, recorda-se Laís, que havia feito as primeiras cestas com a camisa do Tênis Clube de Garça, em 1959, quando chamou a atenção dos responsáveis pelo Corinthians durante um amistoso. Mas seu pai só autorizou que ela viesse jogar na Capital no ano seguinte, quando completou 17 anos.

Laís defendeu o Corinthians por três temporadas e depois migrou para o XV de Piracicaba, onde jogou um ano antes de vir para a Pirelli. “O Paulo Albano estava montando uma equipe forte, que tinha a Nilza, a Odila e a Nadir Basani e precisava de uma armadora”, recorda-se.

Ela já tinha no currículo a disputa do Campeonato Mundial do Peru (em 1964, com 15 pontos em seis jogos), mas confessa que só aceitou vir jogar em Santo André porque aqui havia uma oportunidade a mais. “Quando cheguei, fui trabalhar na biblioteca. A gente treinava apenas três vezes por semana. Eram outros tempos. Depois, passei a trabalhar no (complexo) Pedro Dell''Antonia, onde dava aulas de natação”, lembrou Laís.

Aos 34 anos, a armadora diz ter “enjoado” de jogar e preferiu mudar de função. Passou a treinar as categorias de base da Pirelli e foi a partir daí que descobriu o que mais lhe dá prazer no esporte: a formação de atletas. “Fomos sede do primeiro campeonato estadual da categoria até 15 anos e ganhamos. E olha que o time de São Caetano tinha a Hortência”, recorda.

Hortência, aliás, é uma das pessoas que mais respeita o trabalho da técnica. “Nunca fui treinada pela Laís. Mas tenho certeza de que se não fosse por ela, o basquete não teria sobrevivido em Santo André. O esporte da cidade deve muito a ela”, conta a Rainha. “A Laís faz parte da história do basquete brasileiro”, completou.

A contribuição destacada pela Rainha Hortência pode ser traduzida pelo número de atletas formadas por Laís e por sua parceira Arilza Coraça. Muitas delas, como Marta, Leila, Chuca, Mamá, Vivian e Simone Lima defenderam as cores da Seleção Brasileira em competições internacionais. Outras, tiveram no esporte a chance para mudar de vida.

“A vitória me dá satisfação, mas oferecer oportunidades para essas garotas é o que verdadeiramente me emociona. Somos uma cidade formadora. Ninguém deu tantas atletas para a Seleção adulta como Santo André”, ensina a treinadora, que prepara a retirada das quadras para o ano que vem, após o término da Liga de Basquete Feminino.

No Mundial, ela teve tratamento de estrela
Dos quatro campeonatos mundiais disputados por Laís Elena, o que mais lhe emociona foi do Brasil, de 1971. A Seleção atuou em São Paulo, no Ibirapuera, e ficou com a medalha de bronze. “Íamos treinar e víamos aquelas filas imensas na porta do ginásio para comparar ingressos. Depois, quando entrávamos em quadra, ouvíamos todas as pessoas cantando aquela música ‘90 milhões em ação, salve a Seleção’. Isso era de arrepiar”.

Foram dias em que as jogadoras viveram um conto de fadas. “Tínhamos um andar inteiro no hotel. Recebíamos tantas flores que não dava nem para carregar. O presidente da República, Emílio Garrastazu Médice, telefonava. O governador de São Paulo, Laudo Natel, ia aos vestiários...” O Brasil terminou em terceiro lugar, com quatro vitórias (França, Coréia do Sul, Japão e Cuba) e duas derrotas, para a campeã União Soviética e a vice Tchecoslováquia.

O desempenho foi decisivo para o crescimento da modalidade no País. Publicações da época dão conta de que havia cerca de 100 jogadoras de basquete no Brasil e o Mundial incentivou o surgimento de outras. Uma delas foi Arilza Coraça. “Eu era estudante da USP (Universidade de São Paulo) e trabalhei no Ibirapuera. Quando acabou o Mundial, vim para Santo André tentar uma vaga na Pirelli”, relembra. Deu certo, ela foi atleta, passou a treinadora e depois auxiliar-técnica de Laís Elena.

Parceira de longa data, Arilza elogia disposição em ajudar às atletas
Arilza Coraça pode ser considerada a fiel escudeira de Laís Elena. Trabalhando juntas na comissão técnica de Santo André desde 1985, quando a auxiliar técnica resolveu encerrar a carreira, elas se comunicam quase que por telepatia. “Nos entendemos bem. Desde a minha época de jogadora sempre gostei mais de atuar na defesa e a Laís de cuidar do ataque. Acho que isso faz com que nossa relação seja sadia”, opina Arilza, que foi atleta de Santo André de 1971 até abandonar as quadras.

Apesar de reconhecida pelo que faz na quadra, para Arilza, o lado mais bonito de Laís Elena é longe das quatro linhas. “Fico impressionada como cuida das pessoas. Uma vez voltávamos de um jogo no Paraná e uma jogadora estava com forte dor de garganta. Ela andou pelo aeroporto até achar um médico que pudesse cuidar dela. É um ser humano fantástico”, elogiou Arilza.

Vídeo: Laís Elena comemora 50 anos de basquete em Santo André

Fonte: Diário do Grande ABC

9 comentários:

Anônimo disse...

são tão poucas pessoas que cuidam bem e gostam de basquete feminino que a laís merecia um mega prêmio...parabéns....

Anônimo disse...

Lembro quando o Santo André ganhou a 1ªLBF, mesmo com poucos recursos financeiros a Laís continua contribuindo na formação de novas jogadoras, a Vanessa Fausto (Sassá) evoluiu bastante nos últimos anos e a pivô Bianca Araújo da Silva tem uma história muito bonita de superação.

Anônimo disse...

Parabéns a técnica, que ela siga revelando novos talentos e principalmente dando oportunidade para esses talentos no time principal. Que as meninas não precisem mais sair de Santo André para poder continuar jogando.

Anônimo disse...

Parabéns Laís! Você merece uma estátua de 10 metros de altura para homenagear sua dedicação e persistência com o basquete feminino! Muito obrigado!!!

Anônimo disse...

Pena que o basquete feminino de base está cada vez mais sucateado em Santo André. A cidade não está mais participando do Campeonato Paulista sub-17 e sub-19, inclusive a Bianca, que está no primeiro ano do juvenil e é a pivô titular da seleção está sem jogar. Será que ela vai ficar só treinando o ano inteiro? Atleta em formação precisa jogar! Ainda mais uma ótima pivô de 1,93m.

Anônimo disse...

Sera que é só Santo Andre que esta sucateados?
Quais categorias Americana esta jogando? E São
Caetano,jundiai,São Bernardo.Dinheiro meufilho.Os
Clubes precisam de dinheiro,para condição, moradia.refeição e muitas outras coisas mais.O que
não existe nesse país são dirigentes,pessoas que
trabalham com esporte para irem em busca das condições necessárias para que a base cresça.
Escolinhas de esportes nas escolas.Existem?
Não sejam injustos.Procurem saber porque as coisas não acontecem para depois falarem.Minha filha treina em Santo Andre e eu posso falar.

Anônimo disse...

Sera que é só Santo Andre que esta sucateados?
Quais categorias Americana esta jogando? E São
Caetano,jundiai,São Bernardo.Dinheiro meufilho.Os
Clubes precisam de dinheiro,para condição, moradia.refeição e muitas outras coisas mais.O que
não existe nesse país são dirigentes,pessoas que
trabalham com esporte para irem em busca das condições necessárias para que a base cresça.
Escolinhas de esportes nas escolas.Existem?
Não sejam injustos.Procurem saber porque as coisas não acontecem para depois falarem.Minha filha treina em Santo Andre e eu posso falar.

Anônimo disse...

Anônimo das 08:52, Jundiaí e Americana jogam em todas as categorias. Ninguém disse que é fácil ou que é obrigatório. Apenas há de se lamentar que um clube tradicional como Santo André esteja fora das principais categorias de base depois de tantos anos. O que aconteceu eu não sei, apenas acho triste que um polo importante de formação esteja enfraquecendo.

Anônimo disse...

Santo. André tem qualidade:Sassa,Bianca e Rafaella.
Tambem é pouco para Voce.