quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Adrianinha: "A preparação (para o Mundial) deixou a desejar"



JC – Você tinha se aposentado da seleção em 2012, mas optou por voltar a pedido de Luiz Augusto Zanon (técnico). Por que retornou?
ADRIANINHA – Me aposentei porque achei que não estava me dando bem com a filosofia (da época). Não estava dando meu melhor. Preferi deixar meu espaço para outra pessoa. Mas aí o Zanon veio com essa proposta de renovação. O projeto de colocar uma filosofia de basquete e dar uma cara à seleção. Achei bem interessante, ele sendo um ex-jogador. Já havia visto o trabalho dele em Americana. Achei que seria uma forma diferente. E foi o que aconteceu. Mesmo tendo um resultado não tão positivo (11º lugar), de derrotas, pelo menos eu vi que está sendo feita uma renovação. Dez meninas novas estavam lá, pela primeira vez no Mundial. Entrou um novo conceito e modo de jogar. Acho que valeu a pena.

JC – E por que, agora, deu o adeus definitivo?
ADRIANINHA – O basquete está cada vez mais físico. E minha posição exige muito do físico. Com o passar dos anos fui sentido essa diferença. Quero estar lá, mas realmente participando, ajudando. Se tiver outra menina que estiver melhor do que eu, não vou me sentir bem de estar por estar. Já tive um problema muito grave nas costas no ano passado, em que estava sem poder andar, fiquei de cama. O atleta sente que chegou a hora.

 "Tem muito a melhorar. A preparação, pelo menos que fiz esse ano, deixou a desejar."

JC – Qual o sentimento que ficou dos anos pela seleção?
ADRIANINHA – Foi de gratidão. Foi de: “Nossa, obrigado, meu Deus por ter chegado até aqui. Foi um orgulho e uma honra durante todos esses anos. A maior parte do que eu conquistei no basquete veio em consequência da seleção também. Viajei o mundo. Minha melhor amiga conheci na seleção (Alessandra). Acho que é isso. Quando estamos ali, passando meses juntos, viramos uma família. Chegou momentos em que passava mais tempo com elas do que com a própria família. Tenho uma filha de oito anos (Aaliyah). Fico um mês sem vê-la quando vou pra seleção. É difícil. Mas sempre conversei muito e expliquei pra ela. Até hoje explico porque o basquete ainda exige que eu viaje às vezes. Ela entende. Agora quero me dedicar um pouco mais a ela.

"Ficamos três semanas sem fazer um amistoso. Nosso primeiro jogo foi o do Mundial já. Não existe isso."

JC – Qual foi seu momento mais marcante?
ADRIANINHA – Tenho muito fresco na minha memória a primeira vez que escutei o hino lá em Sidney, na Olimpíada (em 2000). Foi muito emocionante. Vem aquele flash na minha memória, de vestir a camisa da seleção. Minha mãe sempre falava “minha filha, você vai ser atleta lá no ano de 2000”, e eu dizia “você está louca”. E aconteceu. Lembro muito deste momento. Você chegar num Mundial ou numa Olimpíada, representar seu país já é uma vitória. Quem tem essa oportunidade sabe que o esporte amador aqui é difícil e complicado. Quando consegue chegar e representar nosso país lá fora, é uma vitória já, independentemente do resultado.

JC – Que ensinamentos passa às atletas mais novas?
ADRIANINHA – Tem que se dedicar ao máximo e aproveitar a chance. Você está ali, tem a oportunidade de jogar na seleção, representar teu país, então dá teu máximo. Aproveita sem medo de ser feliz porque pode passar e depois pra voltar no tempo não tem como. Quem sabe dali outras oportunidades vão surgir.

“ Acho que a CBB está numa fase muito crítica. Não tem nenhuma atleta lá dentro, que é o erro. O masculino tem uma associação agora que está (atuando) dentro da Liga deles. Mas na CBB mesmo estamos sem voz nenhuma e não tem como.”

JC – Atuar com duas armadoras está sendo uma arma bastante usada no basquete atual. Você gosta dessa tática?
ADRIANINHA – Sou armadora nata. Às vezes tentaram me colocar como lateral, mas fico incomodada porque tenho esse hábito de pegar a bola, puxar o contra-ataque e chamar a jogada. Com outra armadora facilita o comando do jogo. Você tem uma pessoa pra te auxiliar. A posição de armação é muito desgastante. Tanto na defesa, porque os técnicos hoje querem que você pressione a quadra inteira, quanto no ataque, porque você é pressionada a quadra inteira. Então posicionar o time, comandar e pensar em tudo sozinha… Se tiver alguém apoiando é mais fácil. No Sul-Americano (pelo Sport, neste ano) dividi um tempo com a Tainá Paixão (companheira no Uninassau/América). É muito bom e mais fácil.


JC – Qual a sua motivação em continuar atuando na LBF?
ADRIANINHA – Para mim está igual, porque sinto que estou no final da minha carreira. Então, todo treino e jogo para mim é especial. Poxa, daqui a dois anos talvez não esteja fazendo mais isso. Então, graças a Deus, estou conseguindo administrar bem. Me divirto nos treinos, como se fosse cada um uma despedida.


JC – E o adeus definitivo da carreira de jogadora?
ADRIANINHA – Vai ser o momento que vai chegar, como foi com a seleção. A visão que eu tenho hoje. Não é só o jogo, mas como o técnico se porta, como analisar uma jogadora. Esse é o momento mesmo, é o momento de parar. Aqui vai ser a mesma coisa. Ainda me divirto muito jogando. É uma satisfação. Posso continuar jogando, o meu físico está permitindo isso. Quando chegar o momento o próprio corpo e a própria mente vai avisar.

JC – Essa transição entre jogadora e treinadora pode ser feita aqui no Recife, onde você tem a estrutura do Uninassau/América à disposição?
ADRIANINHA – Com certeza. Ele (Roberto Dornelas, treinador) está dando muita possibilidade para mim e para as meninas. É muito diferente de jogar, então estou aprendendo a ensinar ainda. Fiz alguns cursos de treinadores. E até venho observando mesmo, procurando esse lado. Agora tem a oportunidade de algumas escolinhas aqui no Sesc e na Uninassau. Estou ansiosa.


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Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem

JC – O que acha da atual gestão da Confederação Brasileira (CBB) quanto ao basquete feminino?
ADRIANINHA – Acho que a CBB está numa fase muito crítica. Não tem nenhum atleta lá dentro, que é o erro. O masculino tem uma associação agora que está (atuando) dentro da Liga deles. Mas na CBB mesmo estamos sem voz nenhuma e não tem como. Tem que trabalhar junto, atleta e Confederação. Só vai mudar quando puder estar lá, opinar, ajudar… Não sei como essa questão financeira está, que dizem que é o problema, mas posso citar do que eu vivi agora no Mundial. Acho que foi muito fraco em comparação das outras equipes. Fiquei sabendo que a Turquia e vários outros da Europa desde maio estavam treinando. O masculino tem uma seleção A e B, por que o feminino não? Foram questionamentos que até fizemos quando tivemos oportunidade, que é o que ajuda a fazer a renovação. Não adianta só colocar essas meninas agora. E quem está vindo antes? Do sub-15, do sub-17… Tem que começar a preparar já, que é o que as outras seleções fazem. Tem que ser revisto tudo isso. Ficamos três semanas sem fazer um amistoso. Nosso primeiro jogo foi o do Mundial já. Não existe isso. Mas não tem como culpar uma só pessoa. Não posso culpar o técnico ou o preparador ou nós atletas. Tem que ver que alguma coisa na organização do sistema está errado. Tem muito a melhorar. A preparação, pelo menos que fiz esse ano, deixou a desejar.

JC – Recentemente, Magic Paula disse em entrevista ao Lance Net que falta às jogadoras atuais se pronunciar mais e reivindicar mudanças. Você concorda com ela? É preciso também haver uma cobrança maior publicamente, até mesmo por meio da imprensa?
ADRIANINHA – Não acho que é isso que vai resolver (se pronunciarem publicamente). Tem aquele ditado que diz que roupa suja se lava em casa. Eu quero estar aqui falando bem da minha modalidade. Tem que ser resolvido internamente e buscar soluções. Melhorar vai ser bom pra todo mundo, não só pra gente atleta, mas pra técnico, liga, patrocinador… Tem que se unir mais. Falta se unir mais. Eu vi a entrevista da Paula, entendo os pontos dela, mas como vamos reivindicar com dez meninas que nunca foram ao Mundial? Tem que ter paciência e, como disse antes, ter alguém que defenda e fale pelo feminino lá dentro. Para poder falar por nós, porque nós, atletas, nosso trabalho é treinar. Reivindicar vamos, mas a mudança tem que partir lá de cima.

"Posso citar do que eu vivi agora no Mundial. Acho que foi muito fraco em comparação das outras equipes. Fiquei sabendo que a Turquia e vários outros da Europa desde maio estavam treinando. O masculino tem uma seleção A e B, por que o feminino não? "

JC – Essa pessoa lá dentro pode ser você?
ADRIANINHA – Acho que sim, se tiver oportunidade. A partir do momento que não estiver mais aqui (como jogadora), vou querer dar de volta pro basquete tudo que o que ele me deu de alguma forma. Como treinadora, ou no Comitê Olímpico Brasileiro (COB) ou na CBB, onde quer que seja. Falta isso. Por exemplo, fui jogar agora no Mundial e toda comissão técnica e dirigentes sempre têm uma ex-jogadora. É uma outra coisa que sei que estou velha, porque as meninas que joguei contra estão tudo lá, ou como dirigente ou como assistente. No masculino você vê vários, né. Raul, Guerrinha, Vanderlei, Demétrius, todos ex-jogadores que já estão (nesse meio). Tem o Paulinho Villas Boas no COB. Estou fazendo um curso no COB que está abrindo muito minha visão pra esse lado também. Então, se surgir a oportunidade, quero pelo menos estar pronta.

JC – Então a meta maior agora é essa? Ajudar fora de quadra?
ADRIANINHA – A gente sabe o poder que o esporte tem, de mudar a vida de um jovem, de uma comunidade. A gente tem que buscar isso. Mudou a minha e das minhas amigas. Imagina a felicidade que vou ter de mudar a perspectiva de um jovem. Aqui no Sesc e na Uninassau já temos o projeto Cestinhas no Futuro que dá essa possibilidade. Que sejam dez crianças, serei feliz. O meu papel terá sido feito.

Fonte: Cestinha JC

5 comentários:

Anônimo disse...

Super sincera e sensata. É isso aí!

Anônimo disse...


OBSERVADOR

È ACOMODADA,E ESPERA ACONTECER PARA FALAR!!!!DEVERIA TER COBRADO ANTES OU DURANTE!!

Anônimo disse...

Tb fiquei triste com sua despedida , vai-se mais uma geração sub aproveitada ...Enfim dias melhores virão

Anônimo disse...

Querido anônimo Observador.Voce dizer que a Adriana
é acomodada só pode ser de brincadeira.Isso mostra
que Voce não é tão observador .Quanto a afirmação da
Adriana que tudo deixou a desejar,além de ser verdadeiro
demonstra bem o lado protecionista do Vanderlei com o
masculino.Vergonhoso.

Anônimo disse...

ineficiente.
corria demais
o cerebro não acompanhava as pernas
não consegue dar um passe para pivo, sempre passando para os lados.
armadora bem ruim.